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São Paulo (SP)

Andrea Maria Altino de Campos Loparic

  • AMACL
  • Person
  • 1941-2021
Andrea Maria Altino de Campos Loparic nasceu em Recife, Pernambuco, Brasil, em 13 de março de 1941, filha de Sylvio Tavares Cordeiro Campos, médico e professor universitário e Edinar Altino Campos, cantora e diretora do setor de Pernambuco da Juventude Musical Brasileira. Andrea realizou os estudos básicos em Recife. No primeiro ano do colegial, sua turma foi extinta por ter realizado uma greve, o que a levou a se transferir para o Instituto Mackenzie, em São Paulo, onde completou parte do colegial. Entretanto, por dificuldades econômicas e familiares, retornou ao Recife, onde formou-se no Colégio Vera Cruz.
Andrea cursou o primeiro ano do preparatório para a Faculdade de Medicina, o qual abandonou. Em 1961, bacharelou-se em Filosofia pela Universidade do Recife, atual Universidade Federal do Pernambuco (UFPE). Desde o fim do secundário, Andrea envolveu-se com movimentos ligados à juventude católica, mas foi na universidade que compôs ativamente movimentos sociais e estudantis. Foi militante e membro da Direção Regional do Nordeste da Juventude Universitária Católica (JUC) e participou da fundação do movimento Ação Popular (1962). Ainda, teve a oportunidade de integrar o Movimento de Cultural Popular, crescente em Recife, onde fez teatro com nomes como Hermilo Borba Filho e Ariano Suassuna. Andrea também frequentou, na mesma época, reuniões do Partido Socialista que era liderado por Barbosa Lima Sobrinho. Mais tarde atuou nas campanhas para eleição de Miguel Arraes em Pernambuco. Nos anos 80, compôs o Movimento Democrático Brasileiro(MDB), acompanhou as atividades do Partido Socialista Brasileiro (PSB), além de movimentos pela Anistia.
Iniciou sua carreira acadêmica em 1962 como instrutora da cadeira de Ética, na Faculdade de Filosofia de Recife, Universidade do Recife. No mesmo ano, conseguiu uma bolsa de estudos na Universite Catholique de Louvain (UCL), na Bélgica, onde frequentou cursos no Institut Supériur de Philosophie e graduou-se em Bachelier En Philosophie. Ainda, obteve o título de Licencié En Philosophie, título equivalente ao mestrado, em 1965 com um trabalho sobre Merleau Ponty e a noção de sentido em história, que recebeu menção de “grande distinção”. Também possui o Certificat de Premier Doctorat en Philosophie, como uma qualificação para o doutorado, todos pela UCL.
Em 1963, na vila de Louvain, na Belgica, casou-se com Zeljko Loparic, filho de Olga Loparic, iugusláva, e Nikola Loparic, croata. Entre 1964 e 1968 foi bolsista do Comité Catholique contre la Faim et pour le Developpment. Em 16 de janeiro de 1966, nasceu seu primeiro filho, Marko Loparic. No mesmo ano, devido a dificuldades econômicas e problemas familiares, retornou ao Brasil temporariamente por quatro meses.
Em 1967, mudou-se para Alemanha, onde seu marido participava de algumas atividades acadêmicas. Em Heidelberg, cursou o Philosophisches Seminar pela Universitat Heidelberg até 1968, onde teve aulas com Ernst Tugendhat e Dieter Henrich. Nesse período, instigada pelas discussões sobre filosofia da linguagem, Andrea atendeu a um curso de Lógica. No mesmo ano, anunciava-se com Costa e Silva, uma aparente abertura da situação política no Brasil, por essa razão, Andrea retornou ao Brasil.
No Recife Andréa percebeu que seu histórico político a impedia de conseguir trabalhos. Sendo assim, na procura de outras oportunidades, em 1969 conseguiu o cargo de regente da disciplina de Lógica no Departamento de Filosofia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Durante sua estadia na Paraíba, recebeu uma série de mandatos de busca do Exército, por seu histórico político e “comportamento suspeito”. De fato, apesar de ter se afastado das atividades de resistência direta durante o período ditatorial, Andrea sempre deu suporte e acolheu os amigos militantes mais ativos, como Almery Bezerra de Melo, Antônio Othon Pires Rolim, Felícia de Moraes, Maria da Penha Petit Né Villela de Carvalho, Rita Sipahi, Rui Frazão Soares, Violeta Arraes e Vinícius Caldeira Brant. Andrea afirma em depoimento que a Lógica se tornou como um refúgio, pois ficava menos exposta politicamente do que na Filosofia Política, sua anterior área de dedicação.
Em parceria com Zeljko Loparic, criou um curso de especialização em Metodologia da Ciência, destinado à formação docente. Em 1970, foi contratada como professora titular e chefe do Departamento de Filosofia da UFPB, onde lecionou Lógica e Metodologia Científica para o curso de graduação em Filosofia. Em 1º de fevereiro de 1970, nasceu sua segunda filha, Tereza Loparic.
Entre 1970 e 1972, Andrea lecionou em diversos cursos de Aperfeiçoamento, Extensão e Especialização na Universidade Federal de Sergipe (UFS) e na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Em 1972, participou do Primeiro Encontro Brasileiro de Lógica, onde conheceu Oswaldo Porchat, que a convidou, conjuntamente a seu marido, para lecionar no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). Entre os anos 1973 e 1975, foi auxiliar de ensino em Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP) pela instituição. Apesar de o movimento representar um recomeço na carreira, Andrea e Zeljko buscavam por maior liberdade intelectual e melhores condições para seus filhos.
Foi durante esses anos na USP que Andrea iniciou suas colaborações em Lógica com Newton da Costa. Entretanto, apesar de procurar mais liberdade, foi alvo de mandatos de busca do exército e ameaças de expulsão. Neste mesmo período, Andrea compôs o grupo de Oswald Porchat que se transferiu para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Lá, lecionou como professora-assistente MS-2, em RDIDP no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Foi uma das professoras participantes da fase embrionário do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp.
Em 1977, ministrou cursos diversos, como Adaptação à Lógica, Lógica I e Tópicos Especiais de Lógica, no Programa de Pós-graduação em Lógica e Filosofia da Ciência da Unicamp, do qual participou da criação. Entre os anos 1977 e 1987, foi membro das bancas de seleção de candidatos para o já citado programa de pós-graduação, além de participar de diversas comissões administrativas em diferentes ocasiões. Durante esse período, trabalhou enquanto pesquisadora e orientadora de trabalho voltados para semântica de valorações e métodos de decisões para lógicas proposicionais não clássicas, além de se aproximar da psicanálise.
Na década de 1980, Andrea intensificou sua participação política junto ao MDB, onde foi credenciada como fiscal do partido em 1982. Em 1986, participou ativamente [no controle das finanças e de assinaturas de apoio] da campanha de Miguel Arraes para governador do Estado de Pernambuco, apesar de já vir acompanhando o político desde muito antes (1965) e ser amiga pessoal da irmã de Arraes, Violeta Arraes. Em 1987 participou das movimentações do PSB.
Em 1983, Andrea solicitou a reclassificação para professora assistente MS-3 na Unicamp, mas o pedido foi negado devido ao atraso na defesa da sua tese de doutorado. Entre 1984 a 1992 e 1993 a 1995 foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Em 1985, já era discutido a separação de Andrea e Zeljko, que só veio a se concretizar mais há frente, em 1994.
Em 1988, Andrea obteve o título de doutora em Lógica e Filosofia da Ciência, pelo Departamento de Filosofia da Unicamp. No mesmo ano, foi reclassificada como Professor Assistente Doutor MS-3 e pediu afastamento por dois anos para lecionar na USP, onde atuou como professora colaboradora MS-3 junto ao Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), na área de Lógica.
A partir de 1992, Andrea lecionou simultaneamente na USP e na Unicamp, cumprindo o Regime de Turno Parcial (RTP) (12 horas semanais) na USP e RDIDP na Unicamp, como professora assistente doutor MS-3. Em 1992, também atuou como professora visitante na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ministrando cursos para o grupo de lógica do mestrado em Filosofia e para o curso de especialização em Psicanálise.
Em 1994, divorcia-se de Zeljko Loparic. Assim como se aposenta pela Universidade Estadual de Campinas. A partir de 1995, Andrea Loparic estreitou suas relações na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde atuou como professora-orientadora de Pós-graduação em Filosofia. Entre os anos 1994 e 1998, ministrou diversos cursos como professora visitante da Pós-Graduação do Departamento de Filosofia da universidade.
No mesmo ano, retomou suas atividades de docência para os cursos de graduação na USP, onde foi docente do Programa de Iniciação Científica do Departamento de Filosofia. Além de ministrar disciplinas de formação básica em lógica nos cursos de Filosofia tanto na USP quanto na UFRGS. É nesse momento que Andrea produz as suas apostilas de Lógica, intituladas ‘Lições de Lógicas’. Nesse mesmo período, foi membro do conselho editorial da revista “Analytica”.
Entre 1995 e 1998 foi bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A partir de 1999, passou a exercer exclusivamente o cargo de professora doutora em RDIDP na FFLCH da Universidade de São Paulo, onde se aposentou e, posteriormente, continuou atuando como professora sênior de dedicação exclusiva. Nesse período, orientou somente trabalhos em nível de iniciação científica e mestrado.
No final da década de 90, Andrea criou a empresa Humpty Dumpty Informática e a That’s Internet, que ofereciam serviços de conexão de internet independente. A That foi responsável pela estrutura da edição brasileira do Le Monde Diplomatique. Andrea esteve muito ligada às discussões sobre acesso a livre informação, muito preocupada com o domínio que as grandes corporações começavam a exercer sobre a internet. Em decorrências das mobilizações ligadas à internet, Andrea e sua filha Tereza criaram em [2001] o Fórum Social Mundial.
Em 2010, Andrea escreve junto a outros filósofos o Manifesto dos filósofos contra o Impeachment de Dilma Rousseff, o qual Andrea foi entregar à Dilma.
A professora doutora Andrea Maria Altino de Campos Loparic teve sua saúde debilitada pelo tratamento de câncer, e veio a falecer no dia 25 de outubro de 2021, aos 80 anos, de insuficiência renal.
Andrea possui inúmeras pesquisas e publicações, dentre suas áreas de interesse estão semântica das lógicas paraconsistentes e teoria de valorações. Alguns de seus trabalhos são:
• Investigações lógicas VI, coleção “Os Pensadores”, ed. Abril, São Paulo, 1975, em colaboração com Zeljko Loparic. Técnicas e Ciência enquanto ideologia, coleção “Os pensadores”, ed. Abril, 1976, em colaboração com Zeljko Loparic.
• Une étude sémantique de quelques calculs propositionnels, Comptes Rendus de I’Academie des Sciences de Paris, 1977.
• The Method of Valuations in Modal Logic, in Mathematical Logic, Proceedings of the First Brazilian Conference, Marcel Dekker, New York, 1977.
• Semantical Analysis of Arruda – da Costa P systems and adjacent non-replacement relevant systems, p. 302-320, Studia Logica, 1978, em colaboração com Richard Routley.
• The Semantics of the Systems Cn of da Costa, in Proceedings of the Third Brazilian Conference on Mathematical Logic, São Paulo, 1980, em colaboração com E.H. Alves.
• Semantics for Quantified Relevant Logics, in Proceedings of the Third Brazilian Conference on Mathematical Logic, São Paulo, 1980, em colaboração com Richard Routley.
• Valutions in Temporal Logic, in The Journal of Non-Classical Logic, 1980.
• Paraconsistency, Paracompleteness and Induction, in Logic et Analyse, Campinas, 1986, em colaboração Newton C.A. da Costa.
• A Semantical Study of Some Propositional Calculi, in The Journal of Non-Classical Logic, Vol III, n°1, p. 74-95, Maio 1986.
• Two Systems of Deontic Logic, in Bulletin of the Section of Logic, Polish Academy of Sciences, Vol 1, n° 4, p. 137-144, Dezembro de 1986. L’Identité, la Négation et les Univers de Discours, in Lacan avec les Philosophes, Paris, 1991.